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NAVEGUE MAIS FÁCIL

20 de junho de 2011

MAIS UM JORNAL DESTACA SANTANA DO MUNDAÚ E BRANQUINHA COMO EXEMPLO DO CAOS QUE SE ARRASTA O PROJETO DA RECONSTRUÇÃO EM ALAGOAS

        
       A repórter Sumaia Villela do O Jornal de Alagoas em matéria publicado no dia 19 de junho destacou Santana do Mundaú e Branquinha como referência do caos no projeto da reconstrução em Alagoas. As imagens abaixo são da visita que a repórter fez ao canteiro de obras na Jussara, a reportagem foi em dia de chuva e para chegar no local da obra foi preciso pegar carona num trator.






Sumaia Villela
366 dias. Esse é o tempo exato que separa o dia de hoje do maior desastre natural que já castigou Alagoas em sua história. Um ciclo fechado, um ano passado, e o balanço da reconstrução a fazer. Para saber o tamanho do sofrimento e das dificuldades da população dos 19 municípios atingidos pela cheia de 18 de junho de 2010, O JORNAL visitou duas das cidades mais prejudicadas na ocasião: Branquinha e Murici.
“Parabéns para Você” é a última música que vem à cabeça quando o assunto é o aniversário da enchente. Aniversário, inclusive, dá uma ideia de alegria, comemoração. E Alagoas está longe de bater palmas para o trabalho de reconstrução. Com apenas uma escola e nenhuma casa pronta para se entregue a população, o grande forte do programa são mesmo as rodovias, muitas já recuperadas e acessíveis. Muito, no entanto, ainda precisa ser feito.
As comunidades isoladas diminuíram, mas continuam a existir. Em Branquinha, um dos municípios mais atingidos pela cheia, moradores de fazendas localizadas do outro lado da ponte de acesso a Cajueiro e Capela precisa atravessar em um barco improvisado e inseguro. O meio de transporte consiste em uma madeira retangular e reta instalada em um suporte que flutua, movimentada pelos braços do atravessador, que vai puxando a embarcação de um lado a outro por um cabo de aço preso em um destroço de construção.
Na travessia da tarde de quinta-feira, viajavam com as pessoas – crianças, homens e mulheres – quatro galões de leite e um botijão de gás. Nivaldo dos Santos, 56, morador da Travessa Júlio Maia, de Branquinha, contou que atravessa de vez em quando para visitar parentes, e garante que essa é a parte mais fácil do caminho. “E quando chega lá, que não tem transporte? Quem tem sua moto, seu carrinho do lado de lá, que tem menos preocupação. Mas tem muita gente que tem que ir a pé, ou fazer a volta pela entrada das fazendas, um arrudeio danado”.
Logo ao lado, as pilastras da ponte ainda estavam sendo finalizadas, resultado de um remodelamento do projeto inicial, que elevou em 80 centímetros a obra, depois que o nível do rio Mundaú aumentou no dia 20 de maio, chegando ao fim das colunas e mostrando que alcançaria os fundos da ponte no inverno.
Agora a estrutura já está preparada para receber os perfis metálicos, e, dentro de 45 dias, deve estar finalizada e entregue à prefeitura. Quem estima o prazo é o mestre da obra, Sebastião Pereira de Melo, da Arteleste Construções, uma empresa paranaense que está construindo 18 pontes em Alagoas, entre pequenas, médias e grandes. Em Branquinha, há mais duas sob responsabilidade da construtora, uma delas já finalizada há um mês.
Vítimas estão voltando para áreas de risco
Porém, mais grave que os acessos interrompidos é a volta dos moradores para a área de risco. A maioria alega que não tem para onde ir, e recusa os abrigos coletivos e acampamentos planejados para os desalojados e desabrigados. Nivaldo é um deles, é foi um dos primeiros. Ele dormiu apenas um dia no ginásio da cidade. Insatisfeito com as instalações, o antigo cortador de cana esperou somente a água baixar para voltar, e foi reconstruindo a casa aos poucos, já que ela não havia sido completamente destruída. “Era um frevo de gente, tenho costume não de viver assim”, resmungou, num jeito muito matuto.
O comércio, que ocupava boa parte da área totalmente varrida do mapa pela enchente, em Branquinha, também deu um jeito de sobreviver em meio à falta de perspectiva. Muitos voltaram para o local atingido, mas tomaram a precaução de abrir o negócio com uma certa distância das margens do rio. José Fidélis de Lima, 48, perdeu casa e supermercado ano passado, um imóvel de primeiro andar que abrigava os dois mundos do empresário.
Ele guarda consigo a foto do que hoje é um terreno baldio e mostra a todos que tocam no assunto, e a deixa sempre no caixa, à mão, onde trabalha. Seu novo estabelecimento é também é amplo e bem estruturado, tudo construído com o próprio dinheiro, porque não confiou no empréstimo liberado pelo Governo Federal e concedido pela Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco do Brasil (BB), de até R$ 50 mil. “Eu não confio em banco”, dispara.
Um ano depois e o sofrimento continua o mesmo
O horror de viver nos acampamentos montados para acomodar temporariamente os desabrigados da enchente já foi descrito e testemunhado por muita gente. Durante as eleições, a mídia deu ampla cobertura para os maus bocados por que passaram os mesários que precisaram trabalhar dentro dessas barracas. Um ano depois, o sofrimento continua, de forma diferente. Com barracas mofadas – por causa da umidade – e rasgadas, alagamentos e violência constante, milhares de pessoas continuam se espremendo em iglus de plástico e vivendo sem privacidade.
Maria de Fátima, por exemplo, estudante do ensino fundamental de uma escola municipal de Branquinha, precisa fazer as lições do lado de fora da barraca, sentada em uma cadeira de plástico, apoiando o caderno nas pernas e se curvando para escrever. É o local mais claro da sua moradia, e mais espaçoso também – o lado de fora. Sim, porque a casa da jovem, além de naturalmente apertada, por ser uma barraca, precisa ser dividida com seus pais e mais cinco irmãos, além de uma dezena de passarinhos, trancafiados em suas devidas gaiolas.
Gaiolas dentro de outra gaiola. Nas duas moradas, de gente e de pássaro, a escuridão prevalece, e o espaço que seria natural de uma vida liberta – a prisão do acampado é a pobreza – reduzido a poucos metros de chão para andar/voar em círculos, de cabeça baixa. No cativeiro de gente, ainda existem os móveis a espremer ainda mais a família.
Em Santana do Mundaú apenas uma ponte já está “quase” pronta
“Sem esperança, desabrigados voltam a morar na beira do rio”. Essa era uma das chamadas de capa de O JORNAL no dia oito de maio deste ano, quando uma reportagem especial sobre a situação dos municípios do Vale do Mundaú que foram destruídos pela enchente de 2010 foi publicada. Santana do Mundaú era o caso mais emblemático da lentidão com que o Programa de Reconstrução avançava; as casas do novo habitacional não haviam saído da fundação, e a maior parte dos moradores prejudicados havia voltado para a beira do rio ou ido embora da cidade.
Para saber que avanços foram conquistados na região, a reportagem fez algumas ligações para pessoas que já haviam dado as caras na matéria anterior, e o resultado foi desanimador: segundo todos os entrevistados, o município ainda peleja, da mesma forma, com os mesmos problemas. “Está tudo igual. Apenas uma ponte já está pronta para ser concretada”, lamentou Nilo Miranda, um dos coordenadores da Defesa Civil municipal.
Uma leve melhora, no entanto, foi anunciada pelo engenheiro responsável pela obra do conjunto habitacional pela construtora Uchôa, Ricardo Lima. Ele revelou que, das 1.261 residências do Residencial Santana do Mundaú, localizado na Fazenda Jussara, 26 já estão com a alvenaria pronta, e 120 estão com as fundações concretadas. 38 fundações de casas estão ainda em processo de construção, e a terraplenagem – um dos grandes entraves para a obra, já que o terreno é muito acidentado – já alcançou 80% do volume de movimentação de terra.
Obras em Pernambuco são mais aceleradas
No mesmo horário do mesmo dia, dois eventos bem diferentes aconteciam em Alagoas e Pernambuco, os dois estados prejudicados pela cheia do ano passado. Na última sexta-feira, no meio da manhã, a imprensa das duas unidades da federação estava reunida para ouvir o que os gestores tinham a dizer.
A diferença estava no conteúdo: enquanto o governador de PE, Eduardo Campos (PSB) inaugurava as primeiras 139 casas para desabrigados, o vice-governador de AL, José Thomaz Nonô (DEM) justificava o atraso da reconstrução dos municípios atingidos e prestava contas do que já foi feito com os recursos enviados pelo Governo Federal, cerca de R$ 526 milhões, que poderiam ser devolvidos caso o convênio entre as instâncias governamentais não fosse prorrogado.
Nonô foi recém nomeado coordenador do Programa de Reconstrução de Alagoas – cuja comissão gestora anterior fora dissolvida depois de seis meses de trabalho – pelo governador Teotônio Vilela Filho (PSDB), que não estava na coletiva porque, segundo o seu vice, um problema de saúde da família havia o levado a São Paulo.
A RECONSTRUÇÃO EM NÚMEROS
17.762 casas a serem construídas
250 ainda em processo de licitação
29 conjuntos habitacionais em 15 municípios
R$ 41,9 mil é o valor base de uma casa, estabelecido pela CEF
27 escolas serão construídas
1 foi entregue
60% dos projetos de recuperação de rodovias executados
R$ 300 milhões foi a verba direcionada para a infraestrutura
R$ 75 milhões para a Defesa Civil
R$ 122 milhões para a educação
R$ 29 milhões para a saúde
R$ 125 milhões é quanto o Estado ainda quer para a reconstrução
R$ 50 é o que precisará pagar mensalmente uma família que recebe uma casa da CEF
3 barragens estão nos planos do Estado para prevenir outra inundação
0 casas foram entregues até agora
Leia a matéria completa na edição deste domingo de O JORNAL

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